Turma do Xaxado

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Antonio Cedraz

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

"Don't Ask, Don't Tell" Por que todo mundo saiu do armário? (ou a Homossexualidade em tempos de OBAMA) - Lanterna Verde (DC) Estrela Polar (Marvel)

por Caio Ferraro


Barack Obama, presidente dos E.U.A., declarou em entrevista exibida em 12/05/2012 que defende o direito ao CASAMENTO HOMOSSEXUAL (reportagem globo  -  reportagem terra) . Qual o impacto real que isso acarreta?


Entrevista do presidente dos EUA, Barack Obama, defendendo o casamento homossexual. Realizada no dia 12/05 teve impacto político imediato.

Na semana seguinte à declaração a editora Marvel anunciou o casamento do personagem homossexual Estrela Polar, em edição que teve grande repercussão na mídia e esgotou continuamente nas bancas dos EUA. A primeira reação dos ditos liberais e mesmo dos grupos LGBT por cá e acolá foi de aprovação e comemoração por conta da representatividade óbvia de uma capa dupla em uma das revistas mais vendidas no último 1/2 século. Então, qual o problema?

Capa de Astonishing X-men 51 - O casamento de Estrela Polar, o primeiro homossexual da Marvel a se casar, coincidentemente uma semana após a declaração do presidente Obama.


Para Obama o problema é que apesar de conquistar uma parte do eleitorado (que verdade seja dita já o apoiava, mas não gostava da indecisão do presidente), afasta as possibilidades de reeleição presidencial, pois a carga religiosa de sua declaração pode ser sentida já nas pesquisas subsequentes que alavancaram seu futuro adversário, o republicano conservador (reacionário) Mitt Romney, que reafirmou ser contra o casamento gay. Na entrevista Barack deixa claro que essa é uma opinião pessoal e não um objetivo político.

Para as histórias em quadrinhos o problema é mais grave. 


"Pegar carona na cauda do cometa" é fácil...
 O que muitos podem entender como uma ação afirmativa das duas principais editoras de quadrinhos dos EUA (e de alguma forma do mundo), encaro como a representação da atitude usual destas diante de assuntos polêmicos de impacto político. Explico... 
Há anos que ambas editoras trabalham de forma passiva a questão homossexual, apresentando casais formados por personagens do terceiro escalão, em situações subentendidas, quase subliminares. 

Em posts anteriores (História & Quadrinhos - Homossexualidade) apresentamos essa tendência questionável de aproveitar o politicamente aceitável, ou economicamente viável, observando a movimentação do mercado.




Jovens Vingadores - Namorados que não dizem "Eu Te Amo"? Fica subentendido, mas...



As Histórias em Quadrinhos tem grande representatividade midiática desde o surgimento dos comics na década de 30, alternando momentos de altas e baixas (sobretudo agora com a esmagadora força das adaptações cinematográficas, cada vez mais frequentes), entretanto é justamente essa suscetabilidade às tendências do mercado que mantém as grandes editoras sempre refém da opinião da maioria. 



Na semana seguinte foi a vez da DC comics. Lançando um personagem clássico da editora como homossexual, Alan Scott (o Lanterna Verde original), mas ao contrário do que se pode imaginar, não se trata de uma ação ousada em relação à editora concorrente, pois a história se passa em uma realidade paralela. Na reportagem de Diogo Bercito publicada na Folha de SP em 04/06/2012, é um excelente exemplo da representatividade dessas edições fora da realidade do colecionador, alternando seus comentários entre o senso-comum de quem não entende nada de quadrinhos e uma boa análise do contexto em que as editoras propagandeiam seus personagens homossexuais.


"Não, não é o Robin..."
A própria "piada" com que ele inicia seu texto demonstra o poder da ignorância, com a constatação de que o livro "A Sedução do Inocente" (leia matéria do OMELETE - clique aqui) de Fredric Wertham, publicado em 1955, ainda está em evidência. Publicado na época da "caça às bruxas" instaurada pelo Senador Joseph McCarthy, quando tudo que era subversivo era comunista e por consequência um perigo ao "american way of life", o livro do psicanalista apresenta supostas provas de que Batman e Robin são homossexuais e por essa razão uma péssima opção de leitura para os jovens. 


A obra de Wertham levou milhares de mães a fazerem fogueiras com as histórias em quadrinhos de seus filhos, vários títulos foram perseguidos e cancelados (sobretudo os de terror), um código de ética foi instaurado e Batman teve de carregar  o fardo de pedófilo homossexual para sempre. Pode parecer brincadeira da parte do repórter, mas as palavras tem inegável poder e carregam toda uma história de preconceito. 

Os principais acertos ficam por conta do paralelo com o contexto das publicações, como o fim do "Don't Ask, Don't Tell" e o discurso do presidente Obama, além da importante questão econômica da visibilidade que as minorias trazem para um segmento que está em eterna luta contra os altos e baixos das vendas.

Aquém de todo o falatório sobre as duas personagens do mês de maio, outras ocasiões já tinham apresentado personagens homossexuais em ambas editoras. O grupo Autorithy, da editora WildStorm (que foi comprada pela DC), ainda no ano 2000 casou personagens totalmente fora do estereótipo "GAY", pelo contrário, eram a versão da editora para o Batman e o Superman. 

AUTHORITY - a versão da Liga da Justiça da editora WildStorm, que contava inclusive com o casal homossexual Apolo e Meia-noite, sua versão do Superman e Batman. O casamento ocorreu em 2000.




Para argumentar sobre a relação entre exposição e momento, vamos apresentar uma personagem mais recente e sem o mesmo alarde. O filho do herói mutante Wolverine, Daken Akihiro, o Wolverine Sombrio,  aparece em 2007 nas histórias em quadrinhos.
Daken é bissexual, protagonizando beijos com homens e mulheres no decorrer de suas histórias. Sem conflitos psicológicos, sem discussões filosóficas acerca de sua sexualidade, sem esteriótipos, sem questionamentos ele apenas "É". Apesar de ser uma personagem substancialmente mais importante para a cronologia da editora Marvel, as relações homossexuais de Daken não tiveram nenhum tipo de repercussão na mídia, ou impacto / influência direta na concorrência. Não era o momento. 


Publicada em agosto de 2011, a edição em que Daken se deita com outro homem não teve nenhuma repercussão na mídia, apesar de ser uma personagem mais importante do que o Estrela Polar. 

Na minha visão é perigoso associar arte e índices financeiros. Estimular a ideia do artista de acordo com o politicamente aceitável pode nos levar a caçar comunistas novamente, como o Capitão América da década de 50, ou queimar revistas que influenciam nossos filhos à homossexualidade, afinal, é tudo uma questão de momento.


"e pelo poder a mim investido pelos patrocinadores da rede de televisão eu os declaro, ah mm... marido e marido, aparentemente."





Alguns links sobre o assunto:




http://www.universohq.com/quadrinhos/2012/n25052012_05.cfm

http://universohq.com/quadrinhos/2012/n04062012_08.cfm

http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/lanterna-verde-sai-do-armario

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/1098860-lanterna-verde-da-era-de-ouro-e-gay-revela-editora.shtml

http://abobadariodamedia.blogspot.com.br/2012/05/obama-encoraja-batman-sair-do-armario.html

http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2012/05/marvel-entra-no-debate-sobre-casamento-gay-ao-confirmar-uniao-de-northstar.html

http://atarde.uol.com.br/cultura/noticia.jsf?id=5839155&t=Marvel+entra+no+debate+sobre+casamento+gay+com+X-Men

http://rederecord.r7.com/video/marvel-anuncia-casamento-gay-entre-personagens-dos-quadrinhos-de-x-men-4fbe6ac2fc9b034d260835fa/

http://www.emtempo.com.br/editorias/variedades/13084-editora-divulga-imagens-do-primeiro-casamento-gay-de-super-heroi-nos-quadrinhos.html

http://www.youtube.com/watch?v=XAclX7OJ6fU

http://www.youtube.com/watch?v=ECiJ2xejmEE

http://www.youtube.com/watch?v=Fha5M63SWDg

http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/05/obama-defende-abertamente-o-casamento-gay.html

http://www.historiazine.com/

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