Turma do Xaxado

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Antonio Cedraz

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Estupro Não! - Fetichast - Províncias dos Cruzados (José Márcio Nicolosi)

por Caio Ferraro


Fetichast - Províncias dos Cruzados, não é uma história em quadrinhos para crianças. Está explícito na contra-capa. Em um mundo não tão fictício assim José Márcio Nicolosi constrói a nação de Fetichast, repleta de nuances com a nossa realidade a obra escracha o país do futebol, a pontecialização da "cultura" de massa, o poder negativo da TV e a bundalização da vida. Neste, que é o segundo da série Fetichast, o autor trabalha de maneira meticulosa a linguagem coloquial, enquanto utiliza seu traço único para criticar um "lugar longe, muito longe daqui", sem perdoar ninguém. Por essa razão você não conhece, essa não é uma obra comercial. J. Márcio Nicolosi não perdoa nem nós mesmos, espectadores passivos (permissivos) de tanta mediocridade.

Mas o que diabos Fetichast e Ensaio sobre a Cegueira, do mestre José Saramago, tem em comum? 



 O primeiro fala de um mundo supostamente fictício, que trata do que é real. Já o segundo trata de um mundo real, com aura de ficção. A triste realidade é machista até o caroço e o estupro é o ato que congrega todo o simbolismo do sistema patriarcal, onde ensinamos às mulheres um código de conduta: "Vista-se assim! Dê-se ao respeito! Isso não é comportamento de uma moça de família!".

  Ao abordar o ESTUPRO, ambos são diretos.


Tanto os quadrinhos, como o trecho do livro, a cena do filme e a música Nádegas a declarar (Gabriel Pensador) tem por objetivo chocar, indignar, estimular o debate. Ao invés de levar respostas aos alunos, levar perguntas, fazê-los pensar. Oportunidades, podemos dizer. Quantas pessoas tem conhecimento de que a maioria dos estupros é caseiro, é familiar? Quantos dogmas são necessários derrubar para que possamos ensinar aos nossos meninos que a definição de estupro vai muito além de "agarrar uma desconhecida à força em um beco escuro?" 
Ativista na Marcha das Vadias
 
"Mulheres não são estupradas porque estão bêbadas ou usaram drogas;
se vestiram de forma provocante; foram imprudentes.
Mulheres são estupradas porque alguém as estuprou! "

Trecho de "Ensaio Sobre a Cegueira" - José Saramago

"No último corre dor, lá ao fundo, a mulher do médico viu um 
cego que estava de sentinela, como de costume. Ele devia ter 
ouvido os passos arrastados, deu um aviso, Já af vêm, já aí 
vêm. De dentro sa~ram gritos, relinchos, risadas. Quatro cegos 
afastaram rapidamente a cama que servia de barreira à entrada, 
Depressa, meninas, entrem, entrem, estamos todos aqui como uns 
cavalos, vão levar o papo cheio, dizia um deles. Os cegos 
rodearam-nas, tentavam apalpá-las, mas recuaram logo, aos 
tropeções, quando o chefe, o que tinha a pistola, gritou, O 
primeiro a escolher sou eu, já sabem. Os olhos de todos 
aqueles homens buscavam ansiosamente as mulheres, alguns 
estendiam as mãos ávidas, se de fugida tocavam em uma delas 
sabiam enfim para onde olhar. No meio da coxia, entre as 
camas, as mulheres eram como os soldados em parada à espera de 
que Ihes venham passar revista. O chefe dos cegos, de pistola 
na mão, aproximou-se, tão ágil e despachado como se com os 
olhos que tinha pudesse ver. Pôs a mão livre na cega das 
insónias, que era a primeira, apalpou-a por diante e por 
detrás, as nádegas, as mamas, o entrepernas."


Ensaio Sobre a Cegueira - Cena do Estupro Coletivo

O trecho selecionado serve como explicação para a cena seguinte apresentada com a versão cinematográfica da obra. Ainda me lembro da sensação de assistir a cena no cinema. O silêncio absoluto que se seguiu à sensação de impotência dos espectadores foi brutal. Apresentar nessa sequência é uma chance de enquadrar diferentes mídias em um único movimento na sala de aula.


Gabriel Pensador - Nádegas a Declarar

São Quadrinhos para adultos? Sim. A cena selecionada do filme é para adultos? Sim. No entanto, o Ensino Médio talvez seja o último momento de interceder junto aos seres humanos, antes que a esmagadora maioria limite-se a reproduzir as ideias da Veja. Temos de seguir o princípio de Saramago: "Escrevo para desassossegar os meus leitores." Eu quero é ver o circo pegar fogo! Quero alunos debatendo com raiva, indignação! Chega de apaziguar as tensões do mundo... 


Indico também a leitura desses blogueiros fantásticos:


            

Marcha Mundial das Mulheres e Marcha das Vadias. 
Movimentos mundiais feministas.



"Fetichismo: 1. culto de objetos materiais considerados 
                         como a encarnação de um espírito ou em 
                         ligação com ele e possuidores de virtude 
                         mágica (porque apareceu na tv).
                    2.  subserviência total (porque é a tv).
                    3.  perversão que consiste em amar não a 
                         pessoa mas uma parte dela ou um objeto 
                         de seu uso (porque deu na tv)."
(J. Márcio Nicolosi)

2 comentários:

Lucas Lima disse...

Posso dizer que é de longe o tema mais embaçado de ser discutido. Infelizmente, o machismo é uma "cultura" na nossa cultura - se é que você me entende - está constantemente despejado no nosso dia-a-dia sem nenhuma censura.

Concordo plenamente quando diz que talvez o ensino médio sejá a época para provocar a reflexão da mulekada, mas não concordo quando diz que todos os materiais apresentados são para "adultos", pois na minha opinião não existe mais "para adultos", tudo é acessível e assim deve ser. Portanto, para ir contra o que a sociedade impõe aos nossos jovens/crianças a melhor maneira é apresentar-lhes a real situação de forma a chocar e trazer sentido, fomentar o raciocínio, pois afinal de contas o que vai leva-los a não serem machistas em questão serão seus princípios construídos desde a infância.

Unknown disse...

Qualquer semelhança é mera coincidência.

http://www.aimorridesungabranca.com/2013/08/teu-passado-nao-condena-manda-direto.html?utm_source=twitterfeed&utm_medium=twitter

Os Queridinhos!